segunda-feira, 24 de junho de 2013

Pesadelos Diabólicos

Título original: Nightmares

Ano: 1983

Direção: Joseph Sargent

País: EUA

Duração: 99 min

Elenco: Cristina Raines, Emilio Estevez, Lance Henriksen, Veronica Cartwright, Richard Masur
Avaliação:
Sinopse:
Antologia com quatro histórias curtas de terror.

Crítica:
Depois de Benção Mortal e Comboio do Terror, continuamos com a nossa emocionante saga pelo horror B dos anos 80 com este Pesadelos Diabólicos, uma compilação de quatro histórias curtas e independentes que exploram diferentes elementos do universo do gênero, indo de serial killers a ratos gigantes! Como é de se esperar com uma produção que adota esse formato, o resultado não é lá muito consistente, e naturalmente alguns dos segmentos são mais eficientes que outros – o que não significa que algum chegue perto de ser maravilhoso. O curioso é que os quatro episódios que compõem Pesadelos Diabólicos originalmente fariam parte de uma série de tevê chamada Darkroom, mas por serem considerados “intensos demais” pela emissora, acabaram sendo reagrupados e lançados como um filme autônomo. Então é melhor se preparar, porque a partir do próximo parágrafo a coisa vai ficar INTENSA.

A primeira história (ou “capítulo”, como anunciam os letreiros introdutórios de cada segmento) é intitulada “Terror em Topanga”. Começamos numa rodovia à noite, com um policial liberando uma garota de uma multa de trânsito por ser “jovem e bonita demais” e logo depois sendo surpreendido e esfaqueado por um assassino misterioso. Então passamos a acompanhar uma mãe de família chamada Lisa, interpretada pela bela Cristina Raines, de A Sentinela dos Malditos. Lisa mora com seu marido e seus dois filhos numa casa que parece ter sido vítima de um apocalipse vegetal, com plantas assustadoras crescendo de todos os cantos. Eles ficam sabendo pela televisão que um louco armado e perigoso fugiu do hospício e é suspeito de uma série de assassinatos cometidos recentemente nas redondezas. Mesmo com a notícia, Lisa resolve sair de casa tarde da noite pra ir ao mercado comprar leite e cigarros, o que gera uma discussão entre ela e o marido, que a repreende por fumar compulsivamente. Mas o vício fala mais alto e ela consegue sair com o carro às escondidas.

No caminho em direção à cidade, Lisa é surpreendida por uma série de acontecimentos desagradáveis: primeiro é atacada pelo cachorro do vizinho, depois abordada por um maluco pedindo carona no meio da estrada e por fim acaba quase batendo em outro carro. Depois de finalmente conseguir comprar seus cigarros ela se dá conta de que o carro está quase sem combustível, e o pro seu desespero, os postos de gasolina mais próximos estão fechados. Ela dirige mais um pouco e finalmente encontra um posto aparentemente aberto, num local mais distante e isolado. Aparece então para atendê-la o frentista, um homem altamente suspeito que pode ou não ser o assassino. Sem spoilers aqui, mas dá pra dizer que a resolução do mistério é apressada e previsível, o que é uma pena. Este é o episódio mais curto de todos, durando cerca de 17 minutos. A conclusão ainda inclui uma mensagem antitabagismo, tema bastante em voga no início da década de 80.

O segundo capítulo, “O Bispo da Batalha”, também lida com o assunto “vício”, só que dessa vez em jogos, e talvez seja o episódio mais lembrado do filme. Emilio Estevez (sim, ele de novo) interpreta J.J. Cooney, um jovem viciado em videogames que é conhecido entre os colegas por ser imbatível nas jogadas. A história começa com ele passando a perna num grupo de jogadores no fliperama de uma comunidade latina, e óbvio que todos os membros da comunidade expressam sua etnia usando bandanas e redes no cabelo. Como eu amo sutilezas. Mas enfim, o único jogo que Cooney não consegue vencer é o “Bishop of Battle”, que supostamente tem 13 níveis, mas como ninguém nunca conseguiu ultrapassar o nível 12 (exceto um garoto de New Jersey que conseguiu duas vezes, segundo Cooney), o 13º acabou virando uma espécie de mito, com muita gente acreditando que ele nem chegue a existir.

O fato é que Cooney fica cada vez mais obcecado com a ideia de derrotar o “Bispo” e chegar ao nível 13, passando por cima de tudo e todos pra conseguir atingir seu objetivo. Mas ele acaba pagando um preço alto por isso. Não precisa ser muito perspicaz pra deduzir o que acontece em seguida, mas vale dizer que os efeitos especiais utilizados, que podem parecer incrivelmente toscos hoje em dia, por pouco não levaram a produção à falência, consumindo quase que o orçamento inteiro. O episódio, que acaba funcionando alegoricamente como uma campanha antidrogas, é bem divertido e meu segundo favorito, e também o que mais exala o climão oitentista.

O terceiro capítulo, meu favorito da antologia, chama-se “A Bênção” e traz Lance Henriksen (que curiosamente iria poucos anos depois interpretar o androide Bishop em Aliens – O Resgate) como o padre de uma paróquia situada numa região desértica do México que enfrenta uma severa crise de fé após o assassinato de uma criança local. Profundamente abalado, ele começa a sofrer com terríveis pesadelos, e a onírica sequência que abre o episódio é surpreendentemente evocativa e surreal. Bom, há um efeito tosco envolvendo uma cobra, mas isso é só um detalhe. O padre começa a se questionar sobre a existência de Deus, e há uma pequena discussão sobre o bem e o mal, então ele finalmente decide deixar a paróquia e iniciar uma viagem de autodescoberta através do deserto.

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O que começa muito sério e dramático, dando a entender que estamos prestes a ver um suspense religioso sobrenatural, sofre uma reviravolta quando o padre começa a ser perseguido implacavelmente na estrada por uma picape preta no melhor estilo Encurralado! Nós nunca vemos quem dirige a picape, somente que o motorista tem um crucifixo pendurado de cabeça pra baixo no retrovisor. As cenas de perseguição conseguem ser bastante tensas, e em determinado momento a picape sai nada menos que do subsolo, pulando pra fora numa cena inesperadamente bem realizada. O padre finalmente consegue se livrar da picape demoníaca jogando contra ela o galão de água benta que havia trazido consigo na viagem, fazendo-a assim desaparecer. É nesse momento que ele tem certeza que Deus e o Diabo existem, recuperando assim sua fé e por fim retornando à sua paróquia. Confesso que secretamente esperei que em determinado momento durante a perseguição o motorista da picape abaixasse o vidro e se revelasse o Diabo, de preferência numa representação bem exagerada. Mas como eu disse no início do texto, nenhum dos episódios é perfeito.
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O último episódio, “A Noite do Rato”, é o mais fraco de todos, e pra piorar é também o mais longo, ultrapassando meia hora. Veronica Cartwright (de Alien, veja só) e Richard Masur vivem um casal passando por uma crise que, por algum motivo não especificado, envolve Steven, o marido, se transformando num filho-da-mãe arrogante e querendo economizar dinheiro com tudo, achando que a família deve ser autossuficiente e resolver os próprios problemas. Acontece que pelo visto a casa está infestada de ratos, e Claire, a esposa, decide chamar um exterminador, o que não deixa Steven muito feliz. Claro que não são apenas ratos, até porque quando Claire abre o armário da cozinha, as coisas simplesmente voam na cara dela. Também há a filha pequena no meio de tudo e o gato da casa que inevitavelmente acaba se tornando vítima da entidade invasora.

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A coisa toda começa fazendo referência a Poltergeist, mas logo descobrimos que não se trata de espíritos zombeteiros, e sim de um rato gigante. E como se não bastasse, a criatura ainda possui poderes psíquicos. A sequência final envolve a filha pequena conseguindo se comunicar telepaticamente com o bicho (sim, porque crianças são muito sensíveis e receptivas ao sobrenatural) e descobrindo que ele simplesmente queria seu filhote, que Steven conseguiu capturar mais cedo com uma ratoeira. É, não faz o menor sentido mesmo. Depois que o cadáver do filhote é entregue, o rato gigante simplesmente sai pela janela e vai embora. O chroma key empregado aqui, aliás, é terrivelmente mal feito. Aquele episódio do Chapolin Colorado em que ele toma as pastilhas encolhedoras e enfrenta um rato no ralo da pia consegue ser bem mais convincente. É uma pena que “A Noite do Rato” não seja tão ruim a ponto de ser hilário. Primeiro porque as interpretações são ótimas, sobretudo a de Cartwright, e segundo porque o episódio acaba ficando arrastado, tentando sem sucesso construir um clima gradativo de tensão pra um final que não compensa. Mas enfim, há quem ache este o melhor capítulo do filme.
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No geral, Pesadelos Diabólicos traz um horror inofensivo, e é realmente surpreendente que, mesmo em 1983, tenha sido lançado como uma produção rated R. Sexo passa longe, e as doses de violência são praticamente insignificantes. E todos os episódios trazem um tipo de mensagem no final, uma espécie de lição de moral, bem no estilo The Twilight Zone e Are You Afraid of the Dark?. Séries mais atuais voltadas para o público infanto-juvenil, como The Haunting Hour por exemplo, conseguem ser bem mais assustadoras. Entretanto, nada disso tira os charmes de Pesadelos Diabólicos, que mesmo não sendo perfeito, traz boas performances e pelo menos dois episódios bem divertidos.


Mesmo não sendo uma produção essencial, vale a pena dar uma conferida se você for fã de horror e um entusiasta da década de 80. Há elementos de diversos segmentos do gênero sendo explorados e uma quantidade considerável de rostos conhecidos, o que já confere certa preciosidade. Caso você não seja familiarizado com o formato de antologias de terror, há outras bem melhores pra começar, como Creepshow – Show de Horrores e Do Sussurro ao Grito.

Um comentário:

  1. Olá amigo.. Valeu pelos parabéns, sempre estamos tentado trazer diversos filmes e agradeço pela visita! Estive vendo o seu blog, curti pacas, muito bem feito, não se vc faz parceria, caso vc aceite estou ai.. divulgo seu blog e vc o meu.. Valeu amigo.

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