terça-feira, 27 de agosto de 2013

Sonâmbulos

Título original: Sleepwalkers

Ano: 1992

Direção: Mick Garris

País: EUA

Duração: 91 min

Elenco: Brian Krause, Mädchen Amick, Alice Krige, Jim Haynie, Cindy Pickett, Ron Perlman
Avaliação:
Sinopse:
Mãe e filho pertencentes a uma raça de humanoides felinos chegam à cidade em busca do sangue de uma virgem.

Crítica:
Eu vinha planejando rever este clássico do Cinema em Casa já há algum tempo, movido principalmente pela disparidade entre as minhas antigas impressões infantis do filme e a péssima reputação que ele acumula desde que foi lançado. Roteirizado por Stephen King a partir de um conto não publicado e dirigido pelo seu habitual adaptador Mick Garris, Sonâmbulos realmente passa longe de ser grande coisa. Mas ao contrário do ridículo Comboio do Terror, escrito e dirigido por King em 1986, a produção é uma bobagem kitsch divertida o suficiente (tal como eu vagamente lembrava), mantendo-se sempre movimentada, trazendo boas performances, uma dose razoável de gore e ainda conseguindo ser levemente desconcertante e subversiva com seu conteúdo incestuoso. Aliás, falar disso me traz boas lembranças da época nem tão distante em que não éramos totalmente dominados pelo politicamente correto e filmes de terror com sexo e violência passavam sem restrições na TV aberta, espremidos entre programas infantis e novelas. Saudades.

Mas voltemos a Sonâmbulos. O filme tem início com letreiros que explicam a origem das criaturas do título, que são uma espécie de vampiros com traços felinos que se alimentam da energia vital de jovens virgens e puras. Por alguma razão inexplicável, os inimigos naturais dos sonâmbulos são justamente os gatos, cujos arranhões e mordidas podem causar lesões mortais. Depois de uma cena em que dois policiais investigam uma cena de crime onde encontram dezenas de gatos enforcados e o cadáver decomposto de uma adolescente com aparelho ortodôntico – algo que a gente não vê com tanta frequência –, somos apresentados a Mary (Alice Krige) e Charles (Brian Krause, do clássico De Volta à Lagoa Azul), mãe e filho sonâmbulos recém-chegados à cidade que logo de cara nos dão um gostinho de sua peculiar dinâmica familiar dançando pela casa ao som de Sleep Walk (rá!), se beijando na boca (!!) e depois fazendo sexo (!!!). Bem, o filme dá a entender que relações sexuais são uma forma dos sonâmbulos manterem-se mutuamente “recarregados”, e aparentemente a espécie encontra-se em extinção. Tá, né?

O negócio é que eles precisam urgentemente conseguir uma nova virgem para se alimentarem, e Charles parece ter uma queda por Tanya, sua bela e inocente colega de classe interpretada por Mädchen Amick (a Shelly de Twin Peaks). Tanya trabalha no cinema local, e somos introduzidos à personagem com uma deliciosa cena em que ela dança ouvindo Do You Love Me? dos Contours enquanto varre o saguão no fim do expediente.  Surpreendida por Charles, ela reage tímida e desastradamente à presença do garotão charmoso e sedutor. Os dois flertam um pouco e logo marcam um encontro. Enquanto isso, Mary é aterrorizada pelos gatos que cercam a casa e começa a ficar impaciente para que o filho traga logo uma nova namorada, já que está morrendo de fome. Mas estaria Charles apenas seduzindo Tanya para transformá-la na próxima refeição da família ou ele realmente está apaixonado pela mocinha? Vamos acompanhar.

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As coisas começam a ficar tensas quando o Sr. Fallows, um dos professores do colégio, passa a desconfiar de Charles, acreditando que ele esteja mentindo sobre suas verdadeiras origens. Ao confrontar Charles no acostamento, Fallows mal tem tempo de tentar chantagear o aluno em troca de favores sexuais, tendo sua mão boba prontamente decepada no nosso primeiro grande momento de gore tosco. Temos também a primeira cena de transformação sonâmbula, com Charles ficando com cara de gato. O efeito especial não é lá grande coisa e lembra bastante Buffy ou algo televisivo produzido na mesma época, mas funciona bem melhor que o CGI exagerado que costumamos ver nos filmes atuais do gênero. Pouco depois, Charles resolve trollar o xerife pateta Andy, que anda pra cima e pra baixo na viatura com seu gato de estimação Clovis. Tem início uma ótima cena de perseguição, e em determinado momento Charles se assusta ao ver Clovis e seu rosto se transforma várias vezes seguidas em coisas diferentes, e é hilário. Em seguida ele consegue despistar o xerife usando o poder da invisibilidade no carro, que também pode mudar de cor.

Mary fica cada vez mais desesperada, já que tanto ela quanto Charles estão cada vez mais fracos – o que nos leva a mais uma cena de sexo entre mãe e filho. No dia seguinte, Charles leva Tanya para fazer um piquenique no cemitério e tirar algumas fotos por lá, algo que é um hobby dela, e durante o encontro Charles parece genuinamente sentir algo pela garota. Mas é só ela resistir a um avanço de sinal que Charles fica psicótico, mostra sua cara de gato e começa a aterrorizá-la. Daqui em diante, as coisas se desenrolam de forma previsível, com perseguições, confrontos, mortes e gatos. Tudo com muito humor, claro. Um dos meus momentos favoritos (e uma das cenas mais marcantes do filme), é quando Mary mata um dos policiais cravando nas costas dele uma ESPIGA DE MILHO. Épico.
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No geral, Sonâmbulos poderia ser melhor, mas não é de forma alguma ruim. Lendo alguns comentários na internet, eu fiquei chocado com a quantidade de gente que acusa o filme de não ter foco, não se decidindo entre a comédia e o terror, quando ele claramente pretende ser as duas coisas. Quer dizer, as pessoas esperam mesmo que um filme escrito por Stephen King sobre vampiros com cara de gato seja um terror sério? É uma história boba, com um roteiro ordinário, mas ainda assim não deixa de ser consistente e ter lá sua originalidade. Um dos aspectos que eu mais gosto no filme (e que é bem comum em outros trabalhos de King e suas respectivas adaptações) é o tom jocoso e leve que a produção adota, deixando-a com um clima quase que de comédia familiar da Sessão da Tarde. Mas aí aparecem elementos pelo meio que automaticamente tornam a coisa toda imprópria para o horário, e é justamente nisso que reside o grande charme.


Outro grande acerto de Sonâmbulos é não perder tempo com cenas desnecessárias. O filme entretém do começo ao fim, sempre movimentado e sem encheção de lingüiça. As interpretações intencionalmente caricatas também são ótimas. Mädchen Amick, sempre adorável, faz um excelente trabalho como a mocinha, especialmente quando passa de irritantemente meiga pra completamente aterrorizada. Brian Krause não fica atrás transitando entre as facetas distintas do seu personagem. No entanto, é Alice Krige quem realmente rouba a cena como a mãe sexy e manipuladora, e é uma pena que sua participação não seja maior e ela passe boa parte da história pressionando Charles pra conseguir comida. Mas a performance da atriz nos minutos finais acaba compensando, no fim das contas. Como curiosidade, o filme ainda conta com pequenas participações de figuras como Ron Perlman, Clive Barker, Joe Dante, John Landis, Tobe Hooper e o próprio Stephen King como o zelador do cemitério.

Enfim, nada essencial, mas divertido o suficiente se você tem afinidade com o gênero, aprecia o humor típico do King e quer ver algo descompromissado e levemente doentio. Não indicado para defensores ferrenhos dos direitos dos animais ou pessoas sensíveis a gatinhos fofinhos sendo estraçalhados.

3 comentários:

  1. Bom filme... Assisti a primeira vez quando era garoto, tinha uns 14 anos, e realmente a cena de sexo entre mãe e filho me deixou perturbado durante um bom tempo...rs. Ainda mais porque a atriz Alice Krige era bem parecida com minha mãe. Daí você pode imaginar onde ia a imaginação de um pré-adolescente... rs.

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  2. Assisti hoje esse filme, bem legal, gosto desses clássicos.

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  3. Estava conversando sobre filmes de terror e lembrei desse filme que assisti na TV de madrugada quando eu era criança e me assustou muito, inclusive aumentou meu medo de gatos na época rs
    Gostei do blog :)

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