
Título original: Side Effects
Ano: 2013 Direção: Steven Soderbergh País: EUA Duração: 106 min Elenco: Jude Law, Rooney Mara, Catherine Zeta-Jones, Channing Tatum, Polly Draper |
Avaliação:![]() |
Um psiquiatra tem sua vida virada de cabeça pra baixo quando uma de suas pacientes, supostamente sob efeito colateral inesperado de um medicamento prescrito por ele, mata o marido num ataque de sonambulismo.
Crítica:
Nunca fui nenhum fã do Steven Soderbergh. Apesar de reconhecer suas habilidades como cineasta e admirar a qualidade de certas produções como sexo, mentiras e videotape, Traffic e Onze Homens e um Segredo, seus filmes de um modo geral sempre me pareceram, no fundo, grandes montes de nada. Principalmente quando se trata de thrillers como este Terapia de Risco, que, de um jeito tipicamente Soderbergh, apresenta um exercício pretensioso de transformar uma trama simples e convencional numa cansativa jornada intelectual cheia de reviravoltas e revelações, sustentada por diversos gimmicks narrativos e um suposto realismo-denúncia que tentam dar a impressão de que estamos vendo algo muito sério, importante e complexo, e que só pessoas muito inteligentes e bem informadas vão conseguir entender e captar todas as mensagens.
Escrito por Scott Z. Burns, que também colaborou com Soderbergh em Contágio, Terapia de Risco segue Emily, uma jovem deprimida e com tendências suicidas naturalmente interpretada pela irritante Rooney Mara, cujos incríveis atributos dramáticos que a transformaram em musa hipster eu ainda não consegui identificar. Emily aparenta ficar muito contente em ter de volta seu marido Martin, que acaba de sair da prisão após cumprir uma pena de quatro anos por insider trading. Martin é interpretado por Channing Tatum, que aqui tem mais uma vez a oportunidade de mostrar a sua única expressão facial. Ele diz a Emily que logo os dois terão suas vidas de volta aos eixos, já que um colega dele na prisão, cumprindo pena por fraude de impostos, dará a ele quando sair um ótimo emprego em algum negócio misterioso em Dubai. Soa como um ótimo plano, não? Mas não demora muito pra gente perceber que no fundo Emily não está nem um pouco interessada e empolgada com a volta de Martin e seus planos pro futuro, então ela resolve dar um fim a tudo e, numa aparente tentativa de suicídio, bate o seu carro contra uma parede de concreto. E escapa sem nenhum ferimento grave.
Ela acorda no hospital e é então submetida aos cuidados do psiquiatra Jonathan Banks, vivido por Jude Law. O Dr. Banks acha que Emily deve permanecer no hospital pra avaliação, mas ela diz que não, que precisa ir pra casa pelo bem do seu pobre marido. Afinal, ele acabou de voltar da prisão, coitado, e precisa muito da companhia reconfortante da esposa, mesmo que esta tenha acabado de tentar se matar. O Dr. Banks alegremente concorda em liberá-la, mas com a condição de vê-la em seu consultório regularmente. Isso porque ele fica convencido por alguém com a cara da Rooney Mara de que não há risco de algo grave voltar a acontecer. Tipo, ela ACABOU DE TENTAR SE MATAR. E ele é um PSIQUIATRA. Mas enfim, ele acaba receitando uma série de antidepressivos a Emily, e a partir daí somos brindados com menções a todos os antidepressivos disponíveis no mercado pra ficarmos bem cientes de que a depressão é uma epidemia mundial, e que as substâncias utilizadas pra combatê-la são consumidas a rodo por milhões de pessoas. Um problema seríssimo. Quando os antidepressivos tradicionais não funcionam com Emily, o Dr. Banks decide prescrever um novo medicamento chamado Ablixa, sugerido pela antiga psiquiatra dela, a Dra. Victoria Seibert (Catherine Zeta-Jones). Eles só não contavam com a possibilidade do tal Ablixa surtir algum dos seus efeitos colaterais indesejados, que incluem ataques de sonambulismo. E supostamente num desses ataques, Emily começa a cortar tomates na cozinha, e quando Martin chega em casa, ela o esfaqueia em vários lugares certeiros até a morte. No dia seguinte, ela acorda afirmando não se lembrar de nada. Fala sério, você já sabe onde isso vai dar, né?
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Instala-se então o segundo ato do filme, que se concentra na decisão de quem será punido pelo crime: Emily, sendo considerada uma assassina, ou o Dr. Banks, sendo responsabilizado por conta do tratamento negligente. O programa educativo sobre antidepressivos e todas as questões envolvendo a indústria farmacêutica e a delicada posição legal e ética do terapeuta diante de uma situação como a apresentada são deixados de lado e dão lugar a um insuportável drama de tribunal. Emily passa um tempo na prisão até ir a julgamento, e finalmente concorda em alegar insanidade sob a condição de permanecer numa instituição psiquiátrica até ser liberada por um psiquiatra. O Dr. Banks, por outro lado, vê sua vida e seu trabalho irem pelo ralo devido à sua reputação ferida e as acusações de manter relações sexuais com pacientes – incluindo Emily –, que acabam fazendo sua mulher desempregada e seu filho irem embora. Mas com uma rápida pesquisa na internet, ele descobre que a Dra. Seibert chegou a publicar um artigo detalhado sobre o Ablixa que menciona todos os efeitos colaterais do medicamento. Juntando isso com alguns detalhes estranhos do comportamento de Emily, ele soma dois mais dois e percebe que SURPRESA!, Emily mentiu esse tempo todo.
Ele então vai ao encontro da Dra. Seibert para confrontá-la e questionar o porquê dela não ter mencionado os efeitos colaterais quando sugeriu o Ablixa. Não demora muito pra ele descobrir que tudo não passava de uma diabólica trama conspiratória engendrada pela Dra. Seibert e por Emily pra simular os efeitos colaterais do Ablixa e manipular o preço das ações do laboratório fabricante e da concorrência, ficando assim ricas. Isso porque Emily não gostou nem um pouco de ficar pobre depois que Martin foi pra prisão, e quando ela começou a se consultar com a Dra. Seibert, que também havia sido abandonada pelo marido, as duas acabaram se tornando amantes e passaram todos esses anos elaborando um grande golpe. Enquanto Seibert ensinava Emily a simular distúrbios psiquiátricos, Emily a ensinava sobre o funcionamento do mercado financeiro, mundo do qual Martin fazia parte. Agora era só uma questão de unir o útil ao agradável. No processo de revelação da trama, somos agraciados com uma inacreditável atuação de Catherine Zeta-Jones, cuja canastrice chega ao mesmo nível da de Sharon Stone em Instinto Selvagem 2. Zeta-Jones, aliás, acabou de completar um tratamento contra transtorno bipolar, uma condição que certamente deve ter influenciado bastante a decisão dela em participar deste filme, assim como sua performance.
Por fim, o Dr. Banks, resolve elaborar um plano ainda mais diabólico, e acaba fazendo com que Emily acredite que foi traída pela Dra. Seibert. Numa cena digna de Garotas Selvagens, Emily, munida de uma escuta, arranca detalhes do plano da boca de Seibert, que é imediatamente presa. Ela, por sua vez, não pode ser condenada novamente pelo mesmo crime, e como parte do acordo feito com o Dr. Banks é obrigada a continuar sendo “tratada” por ele, que prescreve uma série de medicamentos desnecessários com vários efeitos colaterais. Caso ela se recuse a tomar, será mandada de volta à instituição psiquiátrica por tempo indeterminado. E no fim é lá que ela fica após se comportar mal, enquanto acredita que a Dra. Seibert, que voltou ao trabalho, está conspirando contra ela junto com o Dr. Banks. Emily revela então que tudo foi feito porque ela tinha se acostumado à vida boa e porque a Dra. Seibert havia investido numa companhia rival dos fabricantes do Ablixa, e que o fato de Banks ter se tornado a vítima da história foi por mero acaso. O filme termina com Banks recuperando sua vida em família e seu trabalho, enquanto Emily começa a viver o purgatório da instituição psiquiátrica.
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Isso poderia ter sido divertido de um jeito trash, mas é tudo tão desnecessariamente complicado, polido e levado a sério que fica impossível dar importância ao que está se passando. O engraçado é que Soderbergh alardeou Terapia de Risco como o seu último filme pra cinema, justificando sua precoce aposentadoria (ele tem apenas 50 anos) com a pressão de Hollywood para que se produzam filmes comerciais e de narrativas tradicionais, ao passo que ele defende o cinema como uma arte que pode ser subjetiva e que deve abrir espaço para abstrações. E aí entram três fatores: a) Soderbergh é um diretor renomado e de recursos suficientes pra produzir o tipo de filme que bem entender e encontrar apoio pra isso; b) apesar de competente, ele não é nenhum grande gênio do Cinema; c) o que ele faz em seus filmes é ir justamente na direção oposta da subjetividade e das abstrações. Em filmes como Terapia de Risco, Contágio e o insuportável O Segredo de Berlim, ele exagera no concreto. Ele tenta transformar seus filmes em quebra-cabeças intelectuais, mas partindo do excesso de informação, de detalhes. E as tramas não são interessantes o suficiente pra darem margem a isso.
Terapia de Risco acaba se tornando uma experiência vazia e esquecível, piorada pelo fato de que, ao contrário de Contágio, a “discussão” propagandista acerca de como funciona a indústria farmacêutica e toda a politicagem e corrupção envolvidas acaba dando em nada, não exercendo função nenhuma na narrativa, já que tudo parte do drama fake de uma personagem - o que essencialmente invalida a coisa toda. Juntamos a isso performances medíocres de todo o elenco e uma trama frouxa que poderia ser resolvida em menos da metade da duração do filme e temos a fatigante produção que representa a derrota de Steven Soderbergh no mundo da Sétima Arte. E se você achou a sinopse de Terapia de Risco remotamente interessante, sugiro que no lugar assista ao bem mais divertido Desejos, com Richard Gere e Kim Basinger, que tem uma trama praticamente idêntica, porém muito melhor executada.
Ele então vai ao encontro da Dra. Seibert para confrontá-la e questionar o porquê dela não ter mencionado os efeitos colaterais quando sugeriu o Ablixa. Não demora muito pra ele descobrir que tudo não passava de uma diabólica trama conspiratória engendrada pela Dra. Seibert e por Emily pra simular os efeitos colaterais do Ablixa e manipular o preço das ações do laboratório fabricante e da concorrência, ficando assim ricas. Isso porque Emily não gostou nem um pouco de ficar pobre depois que Martin foi pra prisão, e quando ela começou a se consultar com a Dra. Seibert, que também havia sido abandonada pelo marido, as duas acabaram se tornando amantes e passaram todos esses anos elaborando um grande golpe. Enquanto Seibert ensinava Emily a simular distúrbios psiquiátricos, Emily a ensinava sobre o funcionamento do mercado financeiro, mundo do qual Martin fazia parte. Agora era só uma questão de unir o útil ao agradável. No processo de revelação da trama, somos agraciados com uma inacreditável atuação de Catherine Zeta-Jones, cuja canastrice chega ao mesmo nível da de Sharon Stone em Instinto Selvagem 2. Zeta-Jones, aliás, acabou de completar um tratamento contra transtorno bipolar, uma condição que certamente deve ter influenciado bastante a decisão dela em participar deste filme, assim como sua performance.

Por fim, o Dr. Banks, resolve elaborar um plano ainda mais diabólico, e acaba fazendo com que Emily acredite que foi traída pela Dra. Seibert. Numa cena digna de Garotas Selvagens, Emily, munida de uma escuta, arranca detalhes do plano da boca de Seibert, que é imediatamente presa. Ela, por sua vez, não pode ser condenada novamente pelo mesmo crime, e como parte do acordo feito com o Dr. Banks é obrigada a continuar sendo “tratada” por ele, que prescreve uma série de medicamentos desnecessários com vários efeitos colaterais. Caso ela se recuse a tomar, será mandada de volta à instituição psiquiátrica por tempo indeterminado. E no fim é lá que ela fica após se comportar mal, enquanto acredita que a Dra. Seibert, que voltou ao trabalho, está conspirando contra ela junto com o Dr. Banks. Emily revela então que tudo foi feito porque ela tinha se acostumado à vida boa e porque a Dra. Seibert havia investido numa companhia rival dos fabricantes do Ablixa, e que o fato de Banks ter se tornado a vítima da história foi por mero acaso. O filme termina com Banks recuperando sua vida em família e seu trabalho, enquanto Emily começa a viver o purgatório da instituição psiquiátrica.
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Isso poderia ter sido divertido de um jeito trash, mas é tudo tão desnecessariamente complicado, polido e levado a sério que fica impossível dar importância ao que está se passando. O engraçado é que Soderbergh alardeou Terapia de Risco como o seu último filme pra cinema, justificando sua precoce aposentadoria (ele tem apenas 50 anos) com a pressão de Hollywood para que se produzam filmes comerciais e de narrativas tradicionais, ao passo que ele defende o cinema como uma arte que pode ser subjetiva e que deve abrir espaço para abstrações. E aí entram três fatores: a) Soderbergh é um diretor renomado e de recursos suficientes pra produzir o tipo de filme que bem entender e encontrar apoio pra isso; b) apesar de competente, ele não é nenhum grande gênio do Cinema; c) o que ele faz em seus filmes é ir justamente na direção oposta da subjetividade e das abstrações. Em filmes como Terapia de Risco, Contágio e o insuportável O Segredo de Berlim, ele exagera no concreto. Ele tenta transformar seus filmes em quebra-cabeças intelectuais, mas partindo do excesso de informação, de detalhes. E as tramas não são interessantes o suficiente pra darem margem a isso.
Terapia de Risco acaba se tornando uma experiência vazia e esquecível, piorada pelo fato de que, ao contrário de Contágio, a “discussão” propagandista acerca de como funciona a indústria farmacêutica e toda a politicagem e corrupção envolvidas acaba dando em nada, não exercendo função nenhuma na narrativa, já que tudo parte do drama fake de uma personagem - o que essencialmente invalida a coisa toda. Juntamos a isso performances medíocres de todo o elenco e uma trama frouxa que poderia ser resolvida em menos da metade da duração do filme e temos a fatigante produção que representa a derrota de Steven Soderbergh no mundo da Sétima Arte. E se você achou a sinopse de Terapia de Risco remotamente interessante, sugiro que no lugar assista ao bem mais divertido Desejos, com Richard Gere e Kim Basinger, que tem uma trama praticamente idêntica, porém muito melhor executada.
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